Economia Circular: Sistema Agroalimentar

Pedro Queiroz

Diretor-Geral da FIPA – Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares

À medida que a sociedade exige mais ações por parte da indústria, para acelerar a mudança para um modelo económico mais sustentável, o setor da alimentação e bebidas procura assumir as suas responsabilidades, derivadas da presença que tem na vida quotidiana dos consumidores.

Face a este desafio, a economia circular oferece soluções promissoras, adotando uma abordagem sistémica para transformar a forma de produzir, consumir e, quando necessário, eliminar os géneros alimentícios.

As empresas deverão incorporar nos seus processos internos ações que levem à redução dos resíduos e da poluição, que mantenham os produtos e materiais em utilização e que regenerem os sistemas naturais. Ao adotar as melhores práticas, a economia circular visa criar um sistema mais sustentável e resiliente que beneficia tanto o ambiente como a economia.

Quando efetivamente implementada, a circularidade cria uma forma inovadora de fazer negócios, que pode melhorar tanto a sustentabilidade como a rentabilidade.

Desde novas orientações para os processos produtivos até à capacitação dos consumidores e ao incentivo a uma abordagem conjunta das políticas, toda a cadeia de abastecimento alimentar está a trabalhar para melhorar o seu desempenho. No entanto, este caminho deve ser traçado de uma forma que permita que todas as empresas – independentemente da dimensão – se adaptem.

No caso particular das embalagens, a segurança dos alimentos deve continuar a ser a prioridade, pois estas são concebidas para manter a inocuidade. São também necessárias para preservar a qualidade dos alimentos, prolongar o prazo de validade e evitar o desperdício, além de facilitarem o transporte e a logística, reduzindo assim emissões adicionais. A embalagem é também um meio útil para transmitir informações aos consumidores, basta pensar na rotulagem.

É assim importante que quaisquer inovações ou alterações regulamentares sejam efetuadas com base em provas de que a segurança dos géneros alimentícios não é comprometida, se mantém como uma prioridade e não é afetada por soluções de compromisso.

Por outro lado, a aquisição de matérias-primas de fontes sustentáveis e regenerativas é um primeiro passo crucial para a implementação da economia circular. Isto pode ser feito através do envolvimento dos fornecedores na avaliação do impacto ambiental dos produtos, como por exemplo a utilização de fontes de energia renováveis, a promoção de práticas agrícolas sustentáveis e a minimização do consumo de água e energia durante a produção. Ao trabalhar em estreita ligação com os fornecedores, a indústria pode acelerar a redução do impacto ambiental numa perspetiva de carbono, bem como numa perspetiva de recursos e, consequentemente, contribuir para a regeneração dos sistemas naturais.

Para que a implementação dos princípios da economia circular seja feita com sucesso, é crucial começar com uma avaliação abrangente da maturidade e prontidão da empresa para determinar o ponto de partida mais adequado para a adoção de práticas circulares. Quer se trate de aprovisionamento e produção sustentáveis, soluções de embalagem sustentáveis ou redução e valorização de resíduos, cada tópico deve ser abordado através de uma avaliação cuidadosa dos processos existentes e das oportunidades de melhoria.

A economia circular oferece assim um caminho promissor para indústrias mais sustentáveis, especialmente para o sector da alimentação e bebidas.